terça-feira, 22 de junho de 2010

Dissolução do Coletivo Brasileiro de Bissexuais (agosto de 2007)

Prezadas/os companheiras/os e parceiras/os,

Vimos por esta comunicar de público nossa discordância da forma como foi conduzido o processo de indicação de representantes do Coletivo Brasileiro de Bissexuais ao Seminário Nacional de Saúde de GLBTT e nosso afastamento desse Coletivo.

Muitos de nós participamos do momento de criação do Coletivo no XII EBGLT em 2005 e lutamos muito para que a organização política em favor do direito de bissexuais existisse no Brasil. O CBB se constituiu como uma Rede de ativistas que atuam politicamente pelos direitos de bissexuais e nos propusemos a tarefa de ampliar a mobilização de ativistas bis no Brasil e as discussões a respeito do tema no movimento GLBT e nos espaços de controle social e construção de políticas públicas, bem como aprofundar a discussão sobre direitos, demandas e organização política de bissexuais entre os próprios ativistas do Coletivo.

No entanto, consideramos que a realização dessas tarefas tem sido prejudicada pelas dificuldades de articulação colocadas por termos como espaço exclusivo de discussão e construção coletiva uma lista de discussão de internet, que ao que tudo indica tem sido insuficiente para manter as/os ativistas mobilizadas/os e articuladas/os.

Por outro lado, percebemos também dificuldades com relação aos processos de indicação de representantes para espaços de controle social e construção de políticas públicas.

No processo que se deu para a participação no Seminário de Saúde de GLBTT, houve a princípio uma auto-indicação de um dos integrantes do Coletivo, que encaminhou sua ficha para participação na Comissão Organizadora em detrimento do ativista que havia sido referendado pelo Coletivo, de modo que quando o segundo foi encaminhar sua ficha foi informado pelo primeiro de que ele já havia encaminhado a sua. Tal fato só foi relatado ao Coletivo quando outra integrante postou os nomes dos integrantes da referida Comissão e não constava o nome que foi indicado, mas o outro.

Posteriormente, no processo de indicação de participantes pelo CBB, as/os integrantes foram orientadas/os pelo então "representante" do Coletivo na Comissão de que havia o limite de um nome por estado e que as fichas deviam ser encaminhadas a ele com cópia para a técnica do Ministério da Saúde responsável. Desse modo, os nomes encaminhados não foram referendados pelas pessoas que integram a lista de discussões do Coletivo e só casualmente chegaram ao conhecimento de uma das integrantes do mesmo, que iniciou uma discussão sobre a validade da indicação pelo CBB de nomes de ativistas que não fazem parte da lista do Coletivo e de nenhuma das entidades que tinham ativistas participando da lista no momento da indicação.

O resultado da discussão foi a manifestação de 14 integrantes da lista, que inclui 28 nomes, sendo que, destes, 13 questionaram a condução do processo e/ou discordaram da indicação de nomes de ativistas de outrossegmentos em detrimento do protagonismo político de ativistas auto-identificados politicamente com a luta pelos direitos de bissexuais.

Os 13 integrantes que discordaram do processo de indicação foram: Regina Facchini (Espaço B/APOGLBT - SP), Dino Alves (Pró-Vida - AL), Rodrigo Braga do Couto Rosa (Identidade e NUDU/Campinas - SP), Ronaldo Gomes das Neves (Viva a Diversidade - Diadema/SP), Rosa Maria Rodrigues de Oliveira (ativista em atuação na universidade - SC), Cristiane Marçal (Identidade e NuDU - Campinas/SP), Alexandre Santos
(Espaço B/APOGLBT - SP), Tatiana Maurano (CASVI - Piracicaba/SP), Alexandra Martins (LBL - DF), Vera Couto (EntreBis/Movimento D'Ellas - RJ), Rachel Falivene (ColméiaBi/Moleca - Campinas/SP), Cris Simões (ABL- RJ), Lucienne Rebelo (GLBTTs Socialistas - SP).

O "representante", no entanto, seguiu desqualificando as manifestações que ocorriam e recusando-se a tomar como legítima a manifestação da parte das/os inscritas/os na lista que se dispunham a opinar sobre o tema. Pressionado pelo envio de informações da discussão por um dos integrantes da lista diretamente à técnica do Ministério, o "representante" selecionou e repassou alguns dos emails trocados na lista.

A técnica do Ministério atuante na articulação do Seminário, por sua vez, decidiu questões como a indicação de dois nomes pelo estado de Alagoas, adotando como critério estabelecido por conta própria a seleção da ficha que chegou primeiro (a de um ativista que não milita no movimento de bissexuais e cujo grupo de base não tinha sequer representante inscrito na lista do CBB).

Ainda, a mesma técnica manifestou-se dizendo que aguardava o posicionamento do CBB transmitido pelo "representante", embora soubesse que a posição pessoal do mesmo, além de não ser consensual na Rede, era também minoritária. Além disso, ignorou manifestações individuais e emails repassados pelo próprio "representante" que demonstravam a fragilidade política do processo conduzido no CBB, permitindo que representantes não referendados chegassem a ser apoiados com recursos públicos para participarem do Seminário.

É assim, com pesar, que tornamos públicas nossa discordância em relação à condução dada a esse processo e nossa decisão de nos afastarmos do CBB, a fim de nos dedicarmos ao fortalecimento do movimento na base e evitar que nossas atuações locais sejam usadas para legitimar nomes de "representantes" que nunca priorizaram a defesa dos direitos de bissexuais em sua atuação.

Ressaltamos também que não reconhecemos como legítimos os resultados da representação de segmento feita por ativistas que não foram referendados pela Rede a qual pertencíamos, uma vez que o tempo a ser dedicado à discussão de propostas foi todo gasto com debates sobre a legitimidade do processo de indicação de representantes e que alguns dos indicados a representarem o Coletivo - 03 deles - sequer chegaram a entrar em contato direto com a lista que serve de espaço de articulação do CBB.

Reafirmamos ainda nossa crença na importância da articulação em âmbito nacional. No entanto, entendemos que nos voltarmos prioritariamente ao fortalecimento das ações locais e regionais é estratégico para a estruturação do movimento em favor dos direitos de bissexuais e que a retomada do projeto de uma Rede Nacional pode ser feita assim que as bases do movimento estejam mais fortalecidas.

Atenciosamente,

Alexandra Martins Costa - LBL - Brasília/DF
Alexandre Santos - Espaço B/Assoc. da Parada do Orgulho GLBT e Rede Paulista de Bissexuais - São Paulo/SP
Cris Simões - ABL - Rio de Janeiro/RJ
Rachel Falivene - Colméia Bi/Moleca e Rede Paulista de Bissexuais - Campinas/SP
Regina Facchini - Espaço B/Assoc. da Parada do Orgulho GLBT e Rede Paulista de Bissexuais - São Paulo/SP
Rodrigo Canuto - EntreBis/Movimento D'Ellas - Rio de Janeiro/RJ
Rosa Maria Rodrigues de Oliveira - ativista independente - Florianópolis/SC
Ronaldo Gomes Neves - Viva a Diversidade e Rede Paulista de Bissexuais -
Diadema/SP
Rodrigo Braga do Couto Rosa - Identidade - Grupo de Ação Pela Cidadania LGTTB, NuDU - Núcleo de Diversidade Sexual da Unicamp e Rede Paulista de Bissexuais - Campinas/SP
Tatiana Maurano - CASVI e Rede Paulista de Bissexuais - Piracicaba/SP

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